A Vida de um Futuro Piloto – O Retorno

E aí Cmtes, tudo tranquilo? Maravilha!

Depois de quase um mês sem voar, este relato marca o meu retorno aos céus para concluir o curso de PP. Este foi apenas um relato, dos 5 que estão por fazer. Conforme for conseguindo tempo, vou colocando os demais. Pode ser que eu faça o relato de dois voos no mesmo post para não ficar muito extenso e repetitivo. Só para informar, terminei minhas missões de TGL, agora só faltam as navegações para concluir o cronograma e fazer o voo de check. Boa leitura a todos 😉

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Meu último voo aconteceu, se não me engano, dia 24/10, uma segunda-feira do mês passado. Desde então não voei mais por dois motivos muito simples: falta de dinheiro para pagar as horas restantes e a reta final do TCC na faculdade. Consegui terminar o TCC e entregar no prazo certo, e conversando com alguns familiares, eles decidiram ajudar a terminar as 20h restantes. Semana passada consegui terminar de pagar as 20h e entrei na escala de voo novamente. Dia 18/11, sexta-feira, eu estava na faculdade, apesar de não ter aula de sexta, para poder terminar a apresentação de slides para a banca que acontece quinta-feira agora, dia 24/11.Enquanto trabalhávamos nos slides, meu celular toca e o número era do aeroclube.

Atendi e o Daniel, o novo instrutor da parte de operações, perguntou se teria como eu voar às 13h30min no sábado. Prontamente disse que poderia e desliguei o telefone. 5 minutos mais tarde, ele me liga novamente perguntando se teria condições de eu fazer o voo das 7h também, e então ficaria com 2 horários na escala de sábado. Pensei um pouco e apesar de ser cansativo acordar 5h para ter que ir pra lá para voar às 7h, aceitei, pois conseguiria dar uma adiantada nas aulas restantes. Tudo certo, dois voos marcados para sábado e eu voltaria a voar. Cheguei em casa, carreguei o celular e fui dormir perto da 1h da manhã. Antes de dormir, ainda conferi o despertador para ver se estava ajustado para o horário certo e se estava ativado.

Tudo ok. Fui dormir pensando no voo que marcaria minha volta aos céus depois de quase 30 dias parado. Às 4h acordei sem precisar do despertador. Levantei, tomei um pouco d’água e voltei pra cama, ainda tinha 1h de sono para descansar antes de começar o tão esperado dia. Deitei novamente e logo tinha pego no sono. De repente, meu irmão abre a porta do meu quarto e diz:

– Véi, 15 pras 6h já.

-%#^@$

15 pras 6h era muito atrasado já. Eu teria que sair daqui às 5h30min no máximo, porque teria que deixar meu irmão na rodoviária antes de ir pra aula, e até eu acordar, me aprontar, pegar as coisas e sair, levaria no mínimo 15 minutos, sem contar que a viagem de carro até Londrina demora cerca de 1h indo a 110km/h mais ou menos. E ainda por cima, teria que ir até a rodoviária para deixar meu irmão. Resumindo, eu teria que ir, literalmente, voando baixo para Londrina. Eu não costumo correr com o carro, eu prezo pela minha vida e a vida dos demais passageiros/motoristas que estão na estrada comigo, mas era um caso especial.

Hoje, faltar a uma aula do aeroclube sem avisar com uma antecedência mínima de 24h, acarreta em multa e advertência, pois você conseguiu um horário que outras tantas pessoas queriam, então, neste caso, tive que apertar o pé e correr pra lá. Se essa viagem fosse feita dentro dos padrões que citei acima, inclusive passando pela rodoviária, levaria em média de 1h30min a 1h40min entre sair de casa, cruzar a cidade de Apucarana, ir até Londrina, passar na rodoviária, deixar meu irmão e ir para o aeroclube. Eu lembro que saí de casa por volta das 6h10min mais ou menos, e estava no aeroclube às 6h50min. Sim, eu voei baixo. Mas lá estava eu, são e salvo, pronto para voltar aos céus. Olhei na escala de voo e para o primeiro horário, voaria com o PR-BLO, velho companheiro dos céus, e o instrutor seria o Ozawa. O Ozawa era instrutor da parte de operações quando comecei a voar, e inclusive ele me deu algumas aulas de nacele (ground school). Ele havia tirado o INVA dele e agora tinha passado para o setor prático.

Por ser o primeiro voo da manhã, temos que sair no horário para não atrasar a escala, então a notificação é passada assim que chegamos ao aeroclube e o preenchimento de peso e balanceamento é feito após a aula. A consulta ao METAR, TAF e NOTAM é feita rapidamente para seguir para o voo, e as informações atualizadas de tempo, pegamos no ATIS de Londrina, na frequência 127.67MHZ. Tiramos o BLO do hangar, conferi o combustível e fiz a inspeção externa. Entramos na sala de briefing para uma conversa rápida sobre a missão. Não seria nada diferente das missões anteriores, apenas uma conversa para lembrar as manobras e procedimentos. Como teriam muitas aeronaves no circuito aquela manhã, optamos por ir até Arapongas realizar nosso circuito. Arapongas fica localizada a 15min de Apucarana, de carro.

O aeroporto de lá possui pista asfaltada de 1200m de comprimento e 25m de largura. As cabeceiras operantes são a 15 e a 33. O problema do aeródromo da localidade, além da pista não estar em condições muito boas de uso (alguns buracos e falhas no asfalto), ela possui o famoso SLOPE, que é a ondulação da pista. Sem contar que na final da cabeceira 15 existem algumas árvores mais altas, e na cabeceira oposta, um fim de alta tensão. E fora tudo isso, venta demais lá. Isso tudo eu só descobri depois que fui pra lá. Depois de decidido que iríamos para lá, fui até o BLO para ouvir o ATIS e chamar para acionamento e cópia:

– Torre Londrina, muito bom dia, PR-BLO.

– PR-BLO, ótimo dia. Torre Londrina, prossiga.

– BLO está no pátio do aeroclube, ciente da Q (Quebec, informação do ATIS vigente no momento), solicito autorização para acionamento e voo de instrução TGL em Arapongas.

– Ciente, BLO. Acionamento a critério. Acione 0153. Decolagem pista 13, curva a direita após. Chame controle 129.70. QNH 1014.

– Autorizado acionamento. Transponder 0153, decolagem da 13 curvando a direita. Chamarei controle após a decolagem em 129.70. QNH 1014. BLO.

– BLO, cotejamento correto, informe pronto para taxi.

– Informarei.

O dia estava agradável para voar, não tinha tanto vento no momento, o clima estava ameno e muito bom para voar. Fizemos o check de acionamento, acionamos e fizemos o pós-acionamento. Tudo certo nos checks, hora de chamar para taxi.

– Londrina, PR-BLO pronto para taxi.

– BLO, taxi com cautela. Autorizado ponto de espera pista 13. Será o número 3 para decolagem.

– Ciente, autorizado taxi até o PE da 13. 3º para decolar, BLO.

Iniciamos o taxi e naquele momento, o movimento era intenso em Londrina. Fora os voos do aeroclube que estavam saindo, ainda havia aeronaves particulares partindo, chegando e as de companhias também. Só nessa “brincadeira” de taxi e espera, já foram 15min de aula. Finalmente fomos autorizados a decolar.

– PR-BLO, autorizado alinhar e decolar pista 13. Curve a direita após. QNH 1014. Vento 100/08kt

– Alinha e decola, BLO.

Decolagem tranquila, o vento ainda estava calmo, não tive dificuldades para manter o eixo após a decolagem e logo que livramos a pista, curvamos à direita para seguir para o setor E do aeródromo.

– BLO, decolado aos 01, chame controle em 129.70.

– 129.70, bom dia e bom trabalho.

– Grato.

Livramos a frequência da torre e entramos no controle Londrina que nos acompanharia até Arapongas.

– Controle Londrina, bom dia. PR-BLO.

– PR-BLO, autorizado voo direto até Arapongas no 045. Chame 5 minutos fora do aeródromo.

– 045, chamarei, BLO.

Logo que interceptamos a radial que nos levava até Arapongas, já conseguíamos enxergar as cidades ao longe. Um pouco à esquerda, estava Apucarana, à nossa frente, Arapongas, quase colado com Arapongas fica Rolândia. Um pouco mais a direita estava Cambé, praticamente colada com Londrina. Seguimos até lá e quando estávamos a 5 minutos do aeródromo de Arapongas, avisamos o controle.

– Controle Londrina, BLO está a 5 minutos fora de Arapongas.

– Ciente BLO, mude para a frequência livre em 123.45. Chame para regresso.

– 123.45, BLO. Informarei regresso.

Alternamos para livre e começamos a coordenar com os tráfegos da área:

– PR-BLO, decolado de Londrina, seguindo em direção a Arapongas. 5 minutos fora do aeródromo de destino, alguma aeronave para coordenação de tráfego?

Não obtivemos resposta, o que significava que não havia ninguém por perto. Continuamos seguindo para o aeródromo e fazendo as coordenações necessárias.

– PR-BLO, ingressando na perna do vento da pista 15 em Arapongas.

Novamente o silêncio prevaleceu e continuamos com a aproximação. Na aproximação, o Ozawa falou para fazer com full flap por conta da pista e também para poder chegar um pouco mais alto em virtude das árvores na final. Entretanto, na primeira aproximação do dia, o vento estava muito forte, tão forte que fomos obrigados a arremeter no ar. Recolhemos os flaps direto para 20º e com climb positivo, colocamos em 10º. Cruzando a altitude de aceleração, retiramos todo o flaps e fomos fazer um 180º na vertical. Quer dizer, fomos tentar fazer, pois o vento estava péssimo. Fizemos a fonia de arremetida e anunciamos o 180 na vertical. Tudo correu sem problemas até a parte final, para fazer o pouso.

O vento estava realmente muito forte, e precisamos usar motor para concluir a manobra. Desta vez conseguimos tocar na pista, bem desalinhado e não tão suave. Arremetemos e partimos para um novo 180. Novamente o vento não ajudou. Tocamos e desta vez fomos quase para fora da pista. Mas seguramos o BLO e arremetemos. Depois do susto, resolvemos fazer mais um circuito normal para ir embora, já que os 180 não estavam bons para serem feitos devido ao vento. Assim que tocamos o solo pela 3ª vez em Arapongas, informamos que estávamos retornando a Londrina. Para chamar o controle, precisaríamos estar afastados 5 minutos do aeródromo de Arapongas, por conta das leis de tráfego aéreo (na realidade, esse período é de 10 minutos, porém como é tudo perto, adotou-se 5 minutos para haver uma maior segurança no espaço aéreo da região).

Retornamos então para Londrina e quando estávamos a 5min fora de Arapongas, chamamos o controle novamente, estimando Londrina em 10 minutos. Chegaríamos em 10 minutos se não fosse o forte vento de proa, que atrasou a volta em quase 10min. Fomos autorizados a entrar direto na base da 13 e reportar na final. Assim o fizemos e o Ozawa perguntou se eu conseguiria fazer um pouso curto para livrar na B. Fiz a aproximação, porém na hora do pouso, o vento nos atingiu e o pouso não saiu muito bem. Mas estávamos no solo. Realizamos o 180 sobre a pista e livramos na A, uma vez que havia o tráfego da TRIP no pátio, pronto para taxi. Livramos na A e fomos até o aeroclube para finalizar o voo. No debriefing, apenas a ressalva do último pouso, porém como estava ventando, foi apenas uma observação. No mais, foi um bom voo, aproveitando para conhecer um lugar novo.

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E mais um relato feito, o que acharam? Quer conferir todos os relatos da série?

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Futuro Piloto

Miguel

3 comentários em “A Vida de um Futuro Piloto – O Retorno

  1. show de bola comando, que susto hein quase que perdeu o primeiro voo, hehe
    parabéns, estou na espera dos outros relatos. ; )

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