A Vida de um Futuro Piloto – Voo Solo – Parte Única

E aí Cmtes, tudo tranquilo? Maravilha!

Enfim chegou o grande dia! O dia do meu voo solo. Procurei colocar todos os detalhes do voo e do dia para que a leitura ficasse bem completa. Coloquei praticamente todas as fonias e acontecimentos do voo. E por ser uma ocasião especial, deixei o relato em uma parte única. E sim, ficou maior que os demais da série, mas é por uma boa razão 😉

Apreciem a leitura!

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Após meu voo na quarta-feira, dia 21/09, fiquei de marcar meu voo solo para o fim de semana, com o intuito de conseguir um dia onde meus pais pudessem ir me assistir e presenciar este momento comigo. O Thomé tinha falado para marcar o quanto antes, pois a instrução estava recente e seria mais bem aproveitado o voo desta forma. Entretanto, pensei comigo: Bom, se hoje é quarta e eu quero marcar o voo para o fim de semana, serão 3 ou 4 dias sem voar, o que teoricamente não é muito. E para o voo não tem segredo, pouso e decolagem. Pensando desta forma, optei por deixar o voo para o fim de semana mesmo.

Porém, como era de se esperar, São Pedro nunca colabora com os aviadores da primeira vez. Eu desconheço alguém que tenha conseguido marcar o solo ou o check em um dia e alguma condição climática não tenha atrapalhado. Pois bem, comigo não poderia ser diferente. Ainda na quarta à tarde me ligaram para marcar um voo. O voo seria para o dia seguinte, quinta-feira. Conversei com o pessoal das operações do aeroclube e pedi para tentar marcar o voo no fim de semana. No dia seguinte me ligaram para um voo na sexta-feira. Eu pensei bem, e resolvi topar o voo.

Tentaria convencer meus pais para poder pegar uma dispensa do trabalho e ir me assistir. Olhei a previsão para sexta e o tempo iria virar para chuva. De qualquer forma, aguardei o dia seguinte para ver como ficariam as condições. Logo na parte da manhã, saí para cortar o cabelo e reduzir drasticamente a área coberta de cabelo para o banho de óleo. Já a caminho no barbeiro, recebo a ligação do aeroclube informando que o tempo estava fechando e que as condições não favoreceriam meu voo. De qualquer forma, agendei o voo para o dia seguinte, sábado, e aí tudo ficaria certo. Meus pais não teriam problemas com o trabalho e daria tudo certo. Daria, não fosse novamente a “ajuda” de São Pedro. No sábado de manhã, me ligaram dizendo que o avião tinha dado um problema e que não ficaria pronto até meu voo.

Desta vez quem esteve atuando juntamente com São Pedro foi meu querido amigo Murphy. Ele e São Pedro formam uma dupla implacável quando se diz respeito a cancelar voos. Nenhuma outra dupla no mundo consegue superá-los nisso. Enfim, agradeci e tentei marcar o voo para o domingo, que estaria com tempo bom e ainda sim conseguiria levar minha família e amigos para ver meu solo, mas sem sucesso. Bom, o jeito então foi passar o domingão em família, curtindo histórias e dando boas risadas. No final da tarde de domingo, recebo a ligação marcando o voo para segunda-feira no fim da tarde, 16h30min. Não tinha outra opção a não ser aceitar, afinal, já estava se tornando uma novela esse voo solo.

Segunda não é o dia mais apropriado para que meus pais consigam ir, porém, eu não poderia ficar esperando até o fim de semana que vem. Eis que chega segunda-feira, dia 26/09. Logo na parte da manhã, saí para arrumar as coisas para gravar o vídeo e para o banho de óleo. Comprei um suporte para a câmera, daquele tipo para GPS, comprei umas roupas nesses bazares de roupas a 10 reais, um vidro de detergente e peguei alguns jornais para forrar o banco do carro. No meio dessa correria, a ligação que ninguém gosta de receber. Voo cancelado, pois o avião ainda não estava pronto. Estava difícil conseguir solar. Estava mais fácil eu fazer o voo de check do que sair meu solo. Enfim, que outra opção eu tinha? Terminei de comprar as coisas, afinal eu já estava no centro mesmo e eu precisaria delas para o voo, fosse ele quando quer que fosse.

Já a caminho da faculdade, recebi a ligação. Desta vez, voo terça-feira, 27/09/11, às 7h. Era o primeiro horário da manhã. O primeiro horário da manhã é o melhor para voar. O tempo está fresco, temperatura boa, vento calmo, e na maioria das vezes com boa visibilidade. O problema do primeiro horário é ser o primeiro horário. Principalmente para mim, que moro fora de Londrina. Eu teria que acordar 5h, sair de casa 5h30min e ir de carro para Londrina, uma vez que minha van só chega lá perto das 8h. Seria cansativo, eu tive faculdade na 3ª e estava muito ansioso com o voo. Eu teria que dormir cedo para descansar e estar pronto e preparado para o voo. Eu preferiria o último horário, assim eu teria mais tempo para dormir e me preparar mentalmente para o voo. Enfim, já estava marcado, era hora de ir. Cheguei da faculdade e já estava com sono, aproveitei esse fato e já comecei a me aprontar para dormir. Meia noite marcava o relógio quando fui para meu quarto. Ajustei o despertador e deitei. Foi a noite mais longa da minha vida. Eu acordei umas 200 vezes entre meia noite e meia e 5h.

A cada cinco minutos acordava e olhava a hora, pensando eu tinha perdido o horário. Quando foi 4h30min, não consegui dormir mais. Fiquei deitado na cama até 4h50min e resolvi levantar de uma vez. Tomei um banho rápido nesses 10min de vantagem que tinha conseguido, tomei um café leve, shake de morango e um pão com requeijão e salada. Preparei as coisas, material, documentos, câmeras e suportes e roupas e parti para Londrina pontualmente às 5h30min. Combinei com o Guilherme de ir comigo para gravar o que conseguisse do voo e também para que ele pudesse prestigiar esse momento tão importante para mim, que se não fosse por ele, talvez eu não estivesse realizando esse voo hoje e nem estaria no curso de PP. Era um horário ruim para acordar, ainda mais que passaria na casa dele por volta de 6h30min. Mesmo assim, ele topou e 6h30min estava me esperando lá. Partimos para o aeroclube, ainda fechado, e ficamos aguardando pela chegada dos instrutores.

Normalmente eles chegam 7h, então esperamos um pouco e logo apareceram o Corchielli e o Thomé. O processo para passar uma notificação de voo solo é diferente dos demais voos do aeroclube, pois eu preciso assinar a notificação. Devido a este fato, assim que o Thomé chegou, fomos à sala AIS do aeroporto de Londrina passar a notificação. Meu voo solo seria com o PR-BLO. Eu só havia voado com ele uma vez nos treinamentos de toque e arremetida, mas nem por isso eu ia desistir. Passamos duas notificações de 30min de voo cada uma. Uma com 2 à bordo e uma só comigo.

A primeira notificação seria para um voo rápido para que o Thomé avaliasse minhas condições de fazer o voo, bem como as condições do tempo no circuito, para saber se estava muito turbulento, se tinha vento de través e para dar algumas instruções sobre o voo solo. Além disso, treinamos possíveis panes que pudessem acontecer durante o voo, para que eu soubesse como lidar com cada uma delas. O segundo voo seria meu voo solo em si. Feitas as notificações, voltamos para o aeroclube para preparar a aeronave. Fizemos o briefing no caminho para ganhar tempo e não atrasar o voo. O briefing foi simples:

– Fabão, voo solo hoje. Chegou o grande momento. O voo é o mesmo que fizemos em todos os nossos treinamentos de TGL. Decola, sobe para o circuito, vem pra toque e arremete. Não tem segredo. O primeiro voo eu vou com você para passar algumas instruções adicionais e depois a gente volta e eu solto você solo.

– Fechado, vou correr fazer a inspeção e preparar a aeronave.

– Isso, vai lá. Enquanto isso eu tomo um café rápido aqui.

Cheguei ao BLO e fiz uma rápida, porém cuidadosa e minuciosa, inspeção externa, chequei os componentes, combustível, comandos, óleo do motor, superfícies e tudo mais. Assim que terminei, o Thomé estava chegando e já pediu para que eu entrasse, copiasse o ATIS e chamasse para acionamento. O primeiro voo da manhã é corrido, ainda mais o voo solo, que é necessário ir até o aeroporto para fazer a notificação. Por este motivo, não preenchi a ficha de peso e balanceamento e também não consultei TAF e METAR. Porém, com a experiência de voo, é possível saber se o avião está dentro do envelope.

Como estávamos com 35L de cada lado, juntando meu peso e o do Thomé, eu sabia que estávamos com 5Kg livres ainda, então não havia problema com relação ao peso da aeronave. Quanto ao METAR e TAF, dei uma olhada, como sempre faço, antes de sair de casa. A previsão era de tempo CAVOK para todo o período do voo, e o vento estaria alinhado com 6Kts. De qualquer forma, o ATIS nos informou as condições e a torre nos mantinha informados com as mudanças que iriam ocorrendo. Antes do voo, corri pegar as câmeras e suportes para colocar no avião e filmar o voo. Coloquei o primeiro suporte e como estávamos atrasados, deixei somente um, filmando a cabine do avião. Chamei para acionamento:

– Torre Londrina, bom dia. PR-BLO.

– PR-BLO, torre Londrina, bom dia.

Eu não sabia que teria que chamar para voo solo depois, então reportei já na primeira fonia.

– Torre, o BLO está no pátio do aeroclube, ciente da informação L, solicito acionamento e autorização para voo de instrução TGL, voo solo.

Neste momento o Thomé entrou rapidamente na fonia e disse:

– Negativo, o primeiro voo é voo normal.

– Ciente BLO. Autorizado voo de TGL, aciona 0152 no transponder, decola pista 13, curva esquerda após. QNH 1021.

– 0152, decola da 13 com curva a esquerda. 1021 no altímetro, BLO.

– BLO cotejamento correto, acionamento a critério, chame para taxi.

– Chamará para o táxi, BLO.

Efetuamos o check de acionamento e demos partida no motor. Demorou um pouco para pegar, era o primeiro voo do dia e o tempo estava mais fresco um pouco. Depois da segunda tentativa o motor pegou e neste momento a câmera caiu. Depois do check pós-acionamento, tentei fixar novamente a câmera em um local que fosse menos arredondado, porém não achei. Fixei-a novamente no painel e prosseguimos para o taxi.

– Torre Londrina, BLO pronto para o taxi.

– BLO, taxi autorizado até o PE da 13, reporte ingressando no pátio principal.

– Autorizado taxi, BLO.

Comecei o taxi e a câmera caiu novamente. O painel do C150 é feito de um material meio irregular, poroso, e além da superfície não ser totalmente lisa, ela não tem um ponto onde ela é plana. Por conta disso, o suporte até se fixava em um primeiro momento, mas por conta da trepidação do motor e do próprio taxi, ele se soltava após alguns segundos. Desisti então de tentar filmar, pelo menos com aquele suporte. Ingressamos no pátio e a torre nos autorizou o PE da 13.

– BLO, taxi até o PE da 13, atento ao ATR da companhia TRIP, reporte pronto como número 2.

– Autorizado PE da 13 como número 2, reportará pronto, BLO.

Apesar de estarmos autorizado para o PE, o TRIP ainda não havia começado o taxi. Então o Thomé falou para pararmos no Box #7 e realizar os testes de motor ali mesmo a fim de agilizar o processo. Assim o fizemos.

– Torre Londrina, BLO pronto no Box #7.

– Ciente, autorizado alinhar e manter, BLO.

– Alinha e mantem, BLO.

Alinhamos na pista, check pré-decolagem feito, agora só faltava a autorização, que veio logo em seguida:

– BLO, decolagem autorizada, atento ao tráfego que acabou de decolar. Curve à esquerda após a decolagem. Vento 180/04Kts, QNH 1021.

– Livre decolagem, BLO.

Acelerei o “bichinho” e começamos a rodar. Como era nítida a diferença de potência com o BLO. Ainda mais que ele estava dentro do envelope. Logo atingimos os mínimos e a VR. Para variar um pouco, o Thomé tomou os manetes e eu já me preparei para a pane. Atingimos 60MPH e tirei o avião do solo. Já esperando pela pane, fiquei administrando para ganhar um pouco mais de velocidade antes da pane. Procurei manter entre 75 e 80 para dar tempo de arredondar e fazer um toque mais suave. Porém fomos subindo e nada de pane. Atingi 2200ft, efetuei o check pós-decolagem e assim que atingimos, ele tirou motor e disse pane. Me perguntou onde eu pousaria em caso de pane naquele momento.

A opção mais adequada seria em frente ou nas laterais, como no briefing de emergência. Escolhi o campo em frente, e comecei o planeio. Assim que garanti o pouso, ele pediu para arremeter e continuar no circuito. Curvei à esquerda e no ponto médio da pista já estávamos na altitude de tráfego. Informei a torre assim que chegamos no través da 13 e ela já nos autorizou girar base. O BLO tem uma tendência forte a querer continuar subindo, mesmo com os comandos e compensadores em neutro. Ajustei o compensador para que ele se mantivesse em voo nivelado e continuasse na altitude de tráfego. Assim que passamos o través, o Thomé pegou os manetes simulou uma pane na perna do vento.

Comecei a descida e a curva para cima da pista. A torre nos autorizou o TGL e prosseguimos firmes para o toque. Assim que garanti o pouso, como em toda simulação de pane e em pane real, apliquei full flap e fui para o toque. Tocamos suaves para o primeiro toque do dia. Segurei o bicho no chão, retirei os flaps ao mesmo tempo em que apliquei potência. Flaps recolhidos, mínimos e VR atingidos, tirei o BLO novamente do solo para mais uma circuito. Durante esse circuito o Thomé me deu algumas instruções adicionais:

– Fabão, pede pouso completo agora. Seguinte, se der algum problema aqui, a alternativa é Sertanópolis, você sabe como chegar lá. É só seguir o rio. Cabeceiras 10/28, 1200ft de pista. Procure saber a direção do vento para escolher a cabeceira. Em caso de pane, escolha um local livre de obstáculos para pousar e se der, volte pra pista. Em caso de algum outro tráfego e a torre te mandar fazer espera, tranquilo. Se for pela esquerda, é só ficar na região do Estádio do Café, se for pela direita, espera sobre o Shopping Catuaí. Sabe identificar esses pontos?

– Afirmativo. Está tudo tranquilo. Pode deixar que eu estarei pronto para o que der e vier.

– Tranquilo então. No mais, curta seu voo solo, aproveite o momento e depois é o banho de óleo.

Chegamos no través, solicitei pouso completo.

– BLO autorizado toque e arremetida pista 13, vento agora com 150/05Kts. QNH 1021.

– Negativo, o BLO vai prosseguir para pouso completo.

– Afirmativo, BLO, pouso autorizado.

Efetuei os checks, alinhei com a pista e fizemos um pouso tranquilo novamente. Livramos na C e prosseguimos para o taxi até o aeroclube. Durante o taxi o Thomé perguntou à torre sobre a segunda notificação:

– Torre, já tem a notificação para voo solo do BLO?

– Afirmativo, pronto para cópia?

– Afirmo.

– Decola pista 13, curva à esquerda, mantenha o transponder em 0152, QNH 1021. Chame quando pronto para o novo taxi.

– Mantem 0152, decola pista 13 com curva à esquerda. Chamará para o novo taxi, BLO.

– BLO, cotejamento correto.

Taxiamos até o pátio do aeroclube onde o Thomé deixaria o posto de comandante da aeronave e eu assumiria integralmente os comandos para meu voo solo. Durante o taxi ele me disse que eu faria 2 toques e um pouso completo. Caso não desse tempo por conta de alguma espera ou algo assim, eu faria apenas um toque e um pouso. De qualquer forma, ele me disse que eu tinha que estar no solo às 9h15min. Como pousamos às 8h45min, eu tinha 30min de voo ainda. Chegamos no pátio do aeroclube e ele desembarcou, me desejou boa sorte e foi para a sala de instrução pegar o rádio e ficar na fonia. Neste momento tentei instalar o segundo suporte. Como tinha comprado ele no dia anterior, ele estava novo e achei que conseguiria ficar firmado no painel. Coloquei ele lá e chamei a torre para o novo taxi:

– Torre, BLO pronto para o novo taxi.

– BLO, autorizado taxi, informe no pátio principal.

– Informará, BLO.

Iniciei o taxi sem problemas, fui fazendo todos os call outs e checks em voz alta. Não era porque estava sozinho que eu teria que deixar de fazê-los. Ao começar o taxi, o segundo suporte também caiu e com ele a minha câmera, que por sinal quebrou na queda. Peguei o suporte, coloquei no bagageiro do avião e desisti de vez de filmar o voo. Informei no pátio e a torre autorizou o PE. Chegando no PE, efetuei novamente o check de motor para verificar se estava tudo em ordem e chamei pronto. Decolagem autorizada. Alinhei, conferi os instrumentos e comecei meu primeiro voo solo. Atingidos os mínimos e a VR novamente, agora muito mais rápido que antes, devido ao peso do avião, tirei o BLO do solo e comecei a subir.

– BLO, decolado aos 50, tráfego padrão, informe no través da 13.

– Informará no través da 13 via tráfego padrão, BLO.

Atingi 2400ft pouco depois de começar a curvar para o circuito. 2900ft terminando de estabilizar na perna do vento. Compensei o avião novamente para que não continuasse subindo, reduzi a potência a fim de manter 80 MPH e comecei a curtir a vista e o voo solo. Chegando no través, reportei e a torre autorizou o primeiro toque do voo solo. Aguardei ficar 45º com a pista para girar base, efetuei os call outs, check e girei base. Alinhei na final e a torre informou:

– BLO, toque e arremetida autorizados pista 13, vento 140/04Kts, QNH 1021.

– Autorizado toque e arremetida, BLO.

Toquei em mais um pouso suave e já apliquei potência para decolagem. Iniciei o novo circuito e quando atingi o ponto para girar base, a torre informou sobre um tráfego proveniente do Bacacheri, que estava se aproximando pela direita. Autorizou meu toque e informou para que efetuasse o circuito também pela direita. Alinhei, tudo tranquilo, pouso normal, potência e fora do solo novamente. Curvei à direita e fiquei visual com o Bandeirante ao qual a torre havia notificado. Atingindo o través, reportei:

– BLO no través da 13 pela direita.

– BLO, visual com o tráfego na final?

– Afirmativo.

– Após superá-lo lateralmente, autorizado girar base, mantendo separação. Informe na final.

– Vai girar base após superar o tráfego e informará na final, BLO.

Assim que superei o tráfego, o Thomé entrou na fonia e me comunicou:

– Fabão, está tranquilo. Pode pedir mais um toque.

– Ciente Thomé.

Era perto das 9h05min quando entrei na final para fazer o pouso completo quando recebi a fonia do Thomé. Mudança de planos, vamos para mais um toque. Alinhei, vento tranquilo, pouso suave e arremetida após o 3º toque do voo solo. Mais uma vez a torre pediu o tráfego pela direita e assim o fiz. Aproveitei para tentar fazer um pequeno vídeo para guardar de lembrança. De olho nos comandos e instrumentos, coloquei a mão para trás e achei a câmera. Tentei tirar algumas fotos, mas toda vez que eu ia tirar alguma foto, ela desligava. Mudei para o modo filme e testei. Funcionou. O resultado foi um pequeno vídeo da vista que tinha dali de cima. Não pude filmar muito, pois estava segurando a câmera na mão e o tempo que tinha para fazer a filmagem era curto. Assim que recebi a fonia, desliguei a câmera e ouvi atentamente.

– BLO, efetue um 360 pela esquerda. Tráfego na longa final. Informe reingressando na perna do vento.

– 360 pela direita, BLO.

Na hora eu não percebi, pois como sempre fazia o circuito pela esquerda, os 360 eram pela direita e falei automaticamente. Porém, sabia que o 360 seria pela esquerda, somente na hora da fala que foi automático. No mesmo momento a torro corrigiu:

– Negativo BLO, 360 à esquerda.

– Esquerda, BLO.

Comecei a curva, um pouco mais aberta para aguardar o tráfego na final. Comecei a curvar o BLO começou a subir. A altitude de tráfego é de 2900ft ali em SBLO. Durante a curva, mesmo com o avião compensado e com manche à frente, atingi 3200ft. Tirei potência e comecei a descida novamente para a altitude de tráfego. Superado o tráfego, iniciei a base:

– BLO, toque e arremetida autorizados pista 13, vento 150/06Kts, QNH 1021.

– 1021 BLO. Torre, o BLO vai prosseguir para pouso completo.

– Ciente, pouso completo, BLO.

Alinhei, vim trazendo o C150 com tranquilidade até o toque suave e centralizado na pista 13. Novamente ouço a fonia:

– BLO, solo aos 10, autorizado taxi via C e E. Reporte ingressando no pátio principal.

– C e E para o BLO.

Livrei a pista na C, efetuei o check pós-pouso, e comecei o taxi até o pátio com a sensação de missão cumprida. Antes de chegar ao pátio e torre autorizou o cruzamento do mesmo e pediu para informar livrando. Assim o fiz:

– BLO livrando o pátio principal.

– BLO, mantenha escuta até o corte. Taxi autorizado até o aeroclube. Parabéns.

– Obrigado, bom trabalho.

É muito motivador quando até os controladores reconhecem esse momento. Foram longas horas de treinamento, erros de fonia, manobras e mais manobras, panes, pousos e decolagens até chegar ao momento mais aguardado da vida de todo futuro piloto: o voo solo. Taxiei até o aeroclube e parkeamos o avião. Fiz o check de abandono e prossegui para o debriefing. É gratificante ver que todos reconhecem seu esforço. Todos os presentes ali me cumprimentaram pelo voo. É indescritível a sensação. No debriefing, mais elogios por parte do Thomé, que solava mais um aluno.

Finalizamos o debriefing e era hora do batismo na aviação: o banho de óleo. Porém, eu precisava ir até o centro da cidade para fazer umas coisas e também na esperança de que o tempo esquentasse um pouco. Estava na casa dos 20 graus quando terminei o voo, e eu não estava afim de um banho gelado. Prometi que voltaria para o banho de óleo assim que terminasse as coisas que tinha para fazer. Quando foi 10h, voltei ao aeroclube para receber o batismo. O Thomé estava saindo para voo naquele horário. Aguardei até ele voltar. Eram marcadas 11h30min quando chegou a hora. Fomos para a área do batismo, pegamos o galão de óleo de motor usado e eu me preparei. Coloquei a roupa velha que tinha levado e fui pra lá.

No sol de quase meio dia, estava muito melhor de tomar o banho. O óleo, que estava em um barril no sol, também estava aquecido, temperatura morna. Três, dois, um… Senti o líquido morno e oleoso descer pelas minhas costas e braços. Depois foi no peito e pernas e para fechar com chave de ouro, na cabeça. Vocês precisam ver como fiquei bonito coberto de óleo e cabelo ruivo… Agora era a pior parte: me livrar do óleo. Do lado do local do batismo, tem um chuveiro, que só tem água fria. Por sorte, a água estava razoavelmente morna por conta do sol.

Logo entrei debaixo da ducha para me acostumar com a temperatura da água. Enquanto dava risada, o Guilherme ia me ajudando com o detergente. Gastei meio frasco para tirar o mais grosso. O shorts tive que jogar fora, porque não tinha condições de reaproveitar. Mais limpo que depois do banho de óleo, prossegui para o carro, forrei o banco com umas três camadas de jornal e uma toalha para que não sujasse o carro. Se sujasse, talvez eu não continuasse fazendo o curso, meu pai me mataria antes. Parti para Apucarana com um sorriso de orelha a orelha. Finalmente eu tinha perdido minha virgindade na aviação (By Michelle, redatora do blog Aviação1). Agora é aguardar para o voo de check, que espero que saia em novembro, no máximo. Abaixo vocês conferem um vídeo que fiz sobre meu voo solo 😉

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Então é isso pessoal, este foi o relato do meu voo solo. Agradeço a todos vocês que acompanham o blog e me dão forças através dos comentários, e-mails, redes sociais e tudo mais. Este é o combustível que move o blog: Você! Obrigado mesmo!

Se você perdeu algum episódio da série, não se preocupe, abaixo segue a lista 😉

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Futuro Piloto

Miguel

11 comentários em “A Vida de um Futuro Piloto – Voo Solo – Parte Única

  1. Parabéns Fábio. Não pude deixar de me emocionar com seu relato. E deixo um conselho que me deram uma vez no aeroclube: Nunca se deixe acomodar, estude sempre mesmo depois de terminar o curso. Grande abraço e boa sorte.

  2. Valeu Kleber!

    Apesar de não ser muito agradável a sensação de tomar o banho de óleo, o sentimento é demais. Sentimento de dever cumprido, de sonho realizado.

    Abraço!

  3. parabens cara.
    nem teorico nao comecei ainda, portanto sei pouco. mas nao sei se nao tem algo errado no relato. “Atingi 2400ft pouco depois de começar a curvar para o circuito. 2900ft terminando de estabilizar na perna do vento. Compensei” depois dessa parte, nao é o contrario ao inves de perna e traves primeiro o traves e depois a perna, para depois ingressar na base?
    obrigado e parabens

  4. Olá comando, tudo certo?

    Seguinte, temos aqui duas coisas diferentes que eu aprendi na parte prática também. Través da 13 é diferente de Perna Través da 13. A perna través da 13 seria quando você estivesse com a asa alinhada com a pista, na final oposta da 13, neste caso, 31. Agora través da 13 é quando a sua asa está alinhada com a cabeceira, na perna do vento. Para ficar melhor, veja a imagem abaixo:

    A perna de través está localizada na imagem, agora quando a torre pede para informar no través da cabeceira, é quando você está na perna do vento, um pouco antes de começar a girar para a perna base.

    Espero que tenha entendido, e qualquer coisa estamos à disposição.

    Abraço!

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