Perfil do Cmte: Meu nome é Roberto Carvalho, tenho 46 anos de idade e atualmente sou comandante de 737 Ng na GOL. Sou só piloto, e nos momentos de lazer gosto de pedalar e jogar tênis, além de ficar sossegado em casa com minha família. Quando possível viajo para a casa de campo de minha mãe na represa de Ibiúna.
Pergunta: Quando o Sr. começou a gostar da aviação? Quais foram os seus passos para se tornar um PLA? O Sr. se formou pelo aeroclube ou passou por alguma faculdade? – Eduardo Pedrosa (@Edu_Pedrosa04)
Resposta: Oi Edu, comecei a gostar de aviação com 13 anos de idade. Antes eu me ligava em cachorros e cavalos, mas de repente eu olhei para cima e curti o que eu vi. Veja em http://betocarva.blogspot.com/2009/05/porque-me-tornei-piloto.html
Como apaixonado pela aviação, procurei chegar perto deles (http://betocarva.blogspot.com/2009/06/me-aproximando-dos-avioes.html) e em 1982 comecei o curso teórico e prático para tirar o brevê de piloto privado. Pela facilidade e proximidade, eu fiz no aeroclube de São Paulo (http://betocarva.blogspot.com/2009/07/17-de-fevereiro-de1982.html).
Naquela época não havia faculdade de aviação no Brasil. Fiz 6 meses de administração de empresas, mas parei e dediquei meu tempo e dinheiro para os cursos e horas de voo. O “pulo do gato”, que foi meio que sem querer, foi fazer o curso da EVAER (escola Varig de aviação) que foi uma espécie de curso preparatório para as futuras admições que a Varig viria a efetuar. http://betocarva.blogspot.com/2009/10/o-curso-e-vida-em-porto-alegre.html
Pergunta: Como é a rotina de um piloto hoje? Como funciona o sistema de folgas para voos nacionais e internacionais? –Lucas Trento (@l_trento)
Resposta: Lucas, a vida é boa. Mesmo assim os pilotos da aviação comercial estão sempre reclamando das poucas folgas. Por mês temos no mínimo 8 folgas. Mas há dias em que o voo é só à noite, ou que a chegada é pela manha. Estes dias não são considerados de folga. Ao chegar de um voo, a folga só começa 12 horas após o encerramento do voo, e a folga é de 24 horas. Então se eu encerro um voo ao meio dia, a folga só começa a meia noite (12 h depois), e vai até a meia noite do dia seguinte. Nos voos internacionais, a regra é basicamente a mesma, sendo que este período de 12 horas após o voo até que a folga comece pode ser estendido em certos casos. Como o limite de horas de voos por mês (85 h) fica mais fácil de ser atingido quando se efetua voos internacionais, a tendência é ter mais que 8 folgas por mês, às vezes 14 ou mais. Esta é uma vantagem dos voos de longo curso.
Pergunta: Dizem que piloto não tem tempo pra família por causa da rotina irregular de trabalho. Um dia você está no RS no outro está no AM e não tem muito tempo para ficar com a família. Isso é verdade? Como fazer para conciliar a carreira com a esposa e filhos? – Eduardo Pedrosa (@Edu_Pedrosa04)
Resposta: Em parte é verdade, mas por outro lado, temos a chance de ter folgas em dias de semana, e com isso acompanhar o dia-a dia da família. Há a questão das datas importantes (aniversários, dia das mães e etc…) e para isto há que se programar com antecedência no sentido de pedir as folgas. Escrevi sobre este assunto em http://betocarva.blogspot.com/2010/03/familia-e-o-trabalho.html
Pergunta: Qual é a carga horária de trabalho de um piloto? Quantas horas são permitidas voar por dia? – Fábio Miguel (@miguelfabio)
Resposta: A carga horária pode variar conforme a tripulação, se é simples (dois pilotos), composta (dois comandantes mais um copiloto) ou de revezamento (dois comandantes e dois copilotos). Quanto mais pilotos, mais tempo pode ser a jornada de trabalho. No caso de uma tripulação simples, que é o normal nos voos domésticos, o tempo máximo de trabalho é de 11 horas. Este tempo começa a contar do momento em que a tripulação chega ao aeroporto (de 30 a 60 minutos antes do horário da decolagem), até 30 minutos após o “corte” dos motores ao fim da jornada. Se eu me apresento em Congonhas às 7 da manhã, posso trabalhar até às 6 da tarde, e para isso devo desligar os motores às 5 e meia. Isso porque depois de corte dos motores, há ainda 30 minutos que são considerados dentro da jornada. Há um desconto no tempo em caso de voos noturnos e uma possibilidade de aumentar em uma hora a jornada (a critério do comandante do voo) em casos de atrasos por meteorologia, manutenção ou a chamada “imperiosa necessidade”. Isto é o tempo de trabalho, pois para o tempo de voo, há outros números. Para tripulação simples, o máximo é de 9 horas de voo em um dia.
Pergunta: Uma pergunta que praticamente todo mundo faz é sobre o salário de um piloto hoje. O Sr. poderia explicar pra gente como funciona a política salarial da carreira hoje? A remuneração é feita de que forma? Existe um adicional por horas ou milhas voadas? Qual o salário inicial de um copiloto e a média do Brasil hoje? – Fábio Miguel (@miguelfabio)
Resposta: Esta questão de salário é muito variada. Varia de empresa para empresa e também há um variável muito grande em função do adicional por hora de voo noturna ou as realizadas nos domingos e feriados. Hoje, as empresas praticam uma política de um salário básico relativamente baixo, e o que vai elevar para patamares razoáveis é justamente as horas extras. Nos meses em que se voa pouco (abaixo de 60 horas é considerado pouco), a remuneração vai ser ruim. Se voamos bem, acima de 72 horas, a remuneração é legal. Mas o que importa não é a quantidade, mas sim a qualidade das horas voadas. Mais vale 30 horas de domingo (ou feriado) noturno do que 50 horas de voo diurno. Difícil dizer uma média do Brasil, pois como eu disse há várias empresas. Um copiloto das grandes empresas comerciais, voando Boeing ou Airbus, deve ganhar em média 7 a 9 mil reais brutos. Algumas empresas (TAM) pagam por quilômetros, outras por hora de voo. Por hora é bem melhor, já que por quilômetro, a empresa paga o mesmo se o voo durar uma hora ou uma hora e meia.
Pergunta: Gostaria de saber se o Sr. já voou o MD-11. Se sim, como foi a experiência? Seria possível descrever a aeronave? – Gabriel Albuquerque (@BielKbc)
Resposta: Voei o MD-11 e foi fantástico, uma aeronave incrível. Sinto saudade, avião confortável, moderno, seguro, voos nobres, e tudo isso nos bons tempos da Varig. Veja em http://betocarva.blogspot.com/2010/03/os-bons-tempos.html e também em http://betocarva.blogspot.com/2010/01/o-md-11.html
Pergunta: Como está a situação das mulheres que ocupam cargos de pilotos e comandantes hoje em dia, nas companhias nacionais e internacionais? São bem recebidas ou ainda existe o preconceito? – Fábio Miguel (@miguelfabio)
Respostas: São bem recebidas, e não acho que haja preconceito. Acho que elas são ótimas. São mais cautelosas e possuem uma sensibilidade que só as mulheres possuem. Escrevi um post sobre o assunto: http://betocarva.blogspot.com/2010/05/mulher-piloto.html
Pergunta: Atualmente o fator financeiro é a maior barreira para a formação dos futuros aviadores. Como o Sr. acha que a ANAC ou o governo poderiam agilizar e facilitar a formação do pessoal, focando nessa barreira? Empréstimos? Mais bolsas da ANAC? Alguma diminuição no preço dos aeroclube por algum meio? – Alexandre Sales – (@Alexandre_Sales)
Resposta: De fato o custo de uma faculdade é grande. A ANAC, junto com as empresas aéreas, deveria sim ter programas de bolsas de estudo. Quanto ao valor cobrado pelos aeroclubes, eu desconheço, mas acredito que os pequenos já não tem como diminuir os valores.
Pergunta: Já se decepcionou com a carreira alguma vez ou pensou em fazer outra coisa que não seja voar? – Fábio Miguel (@miguelfabio)
Resposta: A decepção acontece quando não vem na nossa escala mensal de voos, a folga solicitada. Decepção quando as férias não vêm no período desejado. Ou ainda quando por conta das poucas horas de voo o salário é ruim. Decepção e algumas frustrações fazem parte da vida e em qualquer atividade isto vai existir. Mesmo assim, nunca pensei em mudar de ramo. Gosto da aviação e da vida que ela me proporciona.
Pergunta: Quais dicas você daria para quem está começando hoje e quer chegar ao posto de comandante de uma empresa aérea? – Eduardo Pedrosa (@Edu_Pedrosa04)
Resposta: Procure o aeroclube da sua cidade, ou mesmo outro afastado. Obtenha informações, e comece o quanto antes. Embora o curso superior não seja uma exigência, cada vez mais as empresas dão preferência. Faça uma faculdade, de aviação ou não, não importa muito. Se conseguir se empregar numa empresa de aviação, ainda que em outra função que não seja de piloto, pode ajudar. Você já estará dentro da empresa e poderá concorrer a seleção interna para pilotos (quando houver, se houver) cujos requisitos (de horas de voo ou mesmo curso superior) serão mais flexíveis. Não descuide do inglês e da sua saude física e mental.
Novamente gostaria de agradecer ao Cmte por dedicar um pouco do seu tempo a nós, respondendo as perguntas que com certeza era dúvidas de muitos. Muito obrigado Beto, sucesso na sua vida e daqui uns anos nos vemos lá em cima, voando, é claro hahaha.
Também queria agradecer a vocês, leitores e amigos, que enviaram suas perguntas e participaram conosco de mais esta conquista! Sucesso a vocês também!
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